Psicologia Evolutiva – é um ramo da Biologia que estuda o comportamento animal sob uma perspectiva biológica de Adaptação e Selecção Natural . É uma disciplina que nasce no seguimento da “Sociobiology” e da “Behavioural Ecology”.
Tem como objecto de estudo os comportamentos e predisposições naturais que são universais e transversais ao Homem .
Há cinco palavras de ordem que , a meu ver e para já , se adequam para orientar a contribuição que a Psicologia Evolutiva tem para trazer a um debate desta natureza . Essas são : Socialidade; Antropomorfização; Cultura ; Arbitrariedade ; Grupo.
Estudos da área da Neurociência Cognitiva Social trazem à luz evidência da antropomorfização inconsciente com que os primatas interpretam o mundo e os agentes /objectos que os rodeiam. Evidências na interacção social e na elaboração de processos neuronais decisivos de linguagem e acção apontam no sentido de antropomorfização constante . Esta antropomorfização resultará da utilização de uma aparelhagem cognitiva social extremamente desenvolvida , que estará na origem da maior parte da diferenciação cognitiva dos humanos para os outros primatas mais próximos .
A separação emocional do observador /objecto e a consequente degradação da consideração animista resultarão de um estabelecimento arbitrário e cultural do espírito científico que é hoje completamente absorvido pela cultura a uma escala global , com especial ênfase no Ocidente . Só sem os códigos “bio-lógicos” naturais de uma linguagem interpretativa o Homem deixa de “sentir /experienciar ” e passa a racionalizar e a contabilizar em exclusivo . A discussão de David Abraam “O Alfabeto e o Animismo ” (Abraam, 2007) trata este tema .
Uma ferramenta de organização importante do Homem e de outros primatas na catalogação e compreensão do Mundo em que se movem é a formação de grupos . A dicotomização imediata dos fenómenos naturais é uma predisposição imediata e universal , e muitas vezes traduz-se no estabelecimento de “in-group” e de “out-group. Não há razão nenhuma, antes pelo contrário , para crer que o estabelecimento de um “in-group” é específico , ou seja, que incorpora somente animais de uma mesma espécie . E há certamente motivos para investigar a ocorrência generalizada de formação de grupos multi-específicos, principalmente numa atmosfera de inter-especificidade rica como o são as comunidades Homo. É de esperar que a inclusão de animais não-humanos (e.g. animais domésticos ) em grupos por parte de agentes humanos tenha interferências fortes no estabelecimento de relações sociais (não utilitárias) com esses mesmos animais .
A contribuição da Psicologia Evolutiva para este debate é trazer uma linha de diálogo entre nós e as comunidades pré-históricas no sentido de compreender as limitações interpretativas/sensoriais , tal como as predisposições cognitivas que são comuns a todos os Humanos .
António Castelo
Deste texto, o que gostaria de salientar é, precisamente, a ideia de que existe no processo humano de se relacionar em termos cognitivos com o mundo um inescapável mecanismo de antropomorfização, que só começou a ser minimizado (mas obviamente não anulado) com a progressiva introdução do pensamento racional de base científica e, sobretudo, relativista.
ResponderEliminarA ciência moderna levou-nos a crer que poderemos ter uma relação não humana, ou seja, não “antropomorfizadora” com o mundo. O célebre objectivismo. No último século ultrapassou-se essa crença e criaram-se as condições para o entendimento de que não é possível compreender o humano sem perceber as formas como ele se relaciona com o mundo e o concebe, a partir das suas próprias contingências. Se isto é uma questão que remete para aspectos da base biológica da espécie é, seguramente, assunto de interesse para este espaço.
"A ciência moderna levou-nos a crer que poderemos ter uma relação não humana, ou seja, não “antropomorfizadora” com o mundo. O célebre objectivismo. No último século ultrapassou-se essa crença(...)"
ResponderEliminarNao, nao se ultrapassou. Apenas em alguns meios, nomeadamente os que bebem nas correntes pos-modernas. O objectivismo e o realismo sao correntes ainda vivas na filosofia da ciencia, especialmente para aqueles que se dedicam a filosofia da ciencia a partir duma educacao feita nas ciencias naturais ou exactas e nao nas ciencias sociais e humanas.
A psicologia evolutiva e* um campo fortemente criticado, especialmente dentro da propria biologia, devido a falta de 1) validade experimental; 2) abertura a falsificacao. Notorios entre os criticos da PE estao Stephen Jay Gould e Steven Rose. Apesar de apelativos e logicos, os argumentos da PE sao praticamente indemonstraveis e constituem uma apropriacao abusiva e pouco/nada cientifica dos principios da teoria evolutiva.
Usa-la para compreender aspectos das sociedades da pre-historia tardia e*, a meu ver, uma perda de tempo (embora possa constituir um interessante exercicio criativo).
Boas
ResponderEliminarA Psicologia Evolutiva é um ramo da Biologia que é altamente contestado, e a meu ver com efeitos positivos. Uma grande parte dos estudos que se dizem ser da disciplina são substancialmente maus e só servem para desacreditar uma ciência que é simplesmente o produto de várias ciências que se juntam para elaborar uma série de perguntas fundamentais e que procuram as respostas para as ditas. A Psicologia Evolutiva é criticada por muitos na Biologia, mas acho também importante referir que é muito apoiada por tantos outros. No livro de Darwin "the expression of the emotions in man and animals" são lançadas as sementes da Psicologia Evolutiva ao comparar as emoções humanas às dos restantes animais procurando estabelecer ligações estreitas entre as suas implicações fisiológicas e comportamentais e as suas causas evolutivas. Richard Dawkins, um autor contemporâneo importantíssimo do Neo-Darwinismo, é um dos grandes apoiantes da Psicologia Evolutiva, que, a bem ver, nada mais afirma que os comportamentos humanos têm uma base evolutiva, e existem porque, de alguma forma, favoreceram os indivíduos que tinham esses comportamentos no sentido de terem um maior sucesso reprodutor do que os indivíduos ou populações que não exibiam esses comportamentos.
Se se quiser criticar a Psicologia Evolutiva, não faltarão seguramente os artigos por onde escolher. Eu, que fiz formação em Biologia Evolutiva e do Desenvolvimento na FCUL, durante a minha formação em Psicologia Evolutiva ficava verdadeiramente revoltado com alguns dos artigos que me eram apresentados nas aulas. E compreendo perfeitamente o comentador anónimo neste respeito.
As perguntas que a Psicologia Evolutiva coloca são perguntas muito simples que precisam de ser compreendidas. Como é que as crianças tendem a ter medo do escuro? Como é que o coração bate mais depressa quando vemos um animal selvagem? Como é que tentamos interpretar as motivações e estados emocionais dos outros animais? Enquanto as respostas para os mecanismos proximais, ou imediatos (fisiológicos), para estas perguntas são conhecidas, as que se referem aos mecanismos evolutivos também têm de ser encontradas.
Concordo com as críticas aqui deixadas pelo anónimo no que diz respeito a muito do "trabalho" realizado sob o nome da Psicologia Evolutiva. Não compreendo porém, como é que descartar as bases evolutivas dos comportamentos humanos é uma opção para quem pretende compreender as raízes e os mecanismos de uma inteligência humana.